Atos 7: 1-38

1. E disse o sumo sacerdote: Porventura são assim estas coisas?
2. Estêvão respondeu: Irmãos e pais, ouvi. O Deus da glória apareceu a nosso pai Abraão, estando ele na Mesopotâmia, antes de habitar em Harã,
3. e disse-lhe: Sai da tua terra e dentre a tua parentela, e dirige-te à terra que eu te mostrarei.
4. Então saiu da terra dos caldeus e habitou em Harã. Dali, depois que seu pai faleceu, Deus o trouxe para esta terra em que vós agora habitais.
5. E não lhe deu nela herança, nem sequer o espaço de um pé; mas prometeu que lha daria em possessão, e depois dele à sua descendência, não tendo ele ainda filho.

6. Pois Deus disse que a sua descendência seria peregrina em terra estranha e que a escravizariam e maltratariam por quatrocentos anos.
7. Mas eu julgarei a nação que os tiver escravizado, disse Deus; e depois disto sairão, e me servirão neste lugar.
8. E deu-lhe o pacto da circuncisão; assim então gerou Abraão a Isaque, e o circuncidou ao oitavo dia; e Isaque gerou a Jacó, e Jacó aos doze patriarcas.
9. Os patriarcas, movidos de inveja, venderam José para o Egito; mas Deus era com ele,

10. e o livrou de todas as suas tribulações, e lhe deu graça e sabedoria perante Faraó, rei do Egito, que o constituiu governador sobre o Egito e toda a sua casa.
11. Sobreveio então uma fome a todo o Egito e Canaã, e grande tribulação; e nossos pais não achavam alimentos.
12. Mas tendo ouvido Jacó que no Egito havia trigo, enviou ali nossos pais pela primeira vez.
13. E na segunda vez deu-se José a conhecer a seus irmãos, e a sua linhagem tornou-se manifesta a Faraó.
14. Então José mandou chamar a seu pai Jacó, e a toda a sua parentela – setenta e cinco almas.
15. Jacó, pois, desceu ao Egito, onde morreu, ele e nossos pais;
16. e foram transportados para Siquém e depositados na sepultura que Abraão comprara por certo preço em prata aos filhos de Emor, em Siquém.
17. Enquanto se aproximava o tempo da promessa que Deus tinha feito a Abraão, o povo crescia e se multiplicava no Egito;
18. até que se levantou ali outro rei, que não tinha conhecido José.
19. Usando esse de astúcia contra a nossa raça, maltratou a nossos pais, ao ponto de fazê-los enjeitar seus filhos, para que não vivessem.
20. Nesse tempo nasceu Moisés, e era mui formoso, e foi criado três meses em casa de seu pai.
21. Sendo ele enjeitado, a filha de Faraó o recolheu e o criou como seu próprio filho.
22. Assim Moisés foi instruído em toda a sabedoria dos egípcios, e era poderoso em palavras e obras.
23. Ora, quando ele completou quarenta anos, veio-lhe ao coração visitar seus irmãos, os filhos de Israel.
24. E vendo um deles sofrer injustamente, defendeu-o, e vingou o oprimido, matando o egípcio.
25. Cuidava que seus irmãos entenderiam que por mão dele Deus lhes havia de dar a liberdade; mas eles não entenderam.
26. No dia seguinte apareceu-lhes quando brigavam, e quis levá- los à paz, dizendo: Homens, sois irmãos; por que vos maltratais um ao outro?
27. Mas o que fazia injustiça ao seu próximo o repeliu, dizendo: Quem te constituiu senhor e juiz sobre nós?
28. Acaso queres tu matar-me como ontem mataste o egípcio?
29. A esta palavra fugiu Moisés, e tornou-se peregrino na terra de Midiã, onde gerou dois filhos.
30. E passados mais quarenta anos, apareceu-lhe um anjo no deserto do monte Sinai, numa chama de fogo no meio de uma sarça.
31. Moisés, vendo isto, admirou-se da visão; e, aproximando-se ele para observar, soou a voz do Senhor;
32. Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. E Moisés ficou trêmulo e não ousava olhar.
33. Disse-lhe então o Senhor: Tira as alparcas dos teus pés, porque o lugar em que estás é terra santa.
34. Vi, com efeito, a aflição do meu povo no Egito, ouvi os seus gemidos, e desci para livrá-lo. Agora pois vem, e enviar-te-ei ao Egito.
35. A este Moisés que eles haviam repelido, dizendo: Quem te constituiu senhor e juiz? a este enviou Deus como senhor e libertador, pela mão do anjo que lhe aparecera na sarça.
36. Foi este que os conduziu para fora, fazendo prodígios e sinais na terra do Egito, e no Mar Vermelho, e no deserto por quarenta anos.
37. Este é o Moisés que disse aos filhos de Israel: Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta como eu.
38. Este é o que esteve na congregação no deserto, com o anjo que lhe falava no monte Sinai, e com nossos pais, o qual recebeu palavras de vida para vo-las dar;

O Legado dos Patriarcas: A Defesa de Estêvão

julfgamento de estevão

No cenário efervescente da igreja primitiva de Jerusalém, onde os primeiros seguidores de Jesus se organizavam e cresciam em número, surgiu a figura de Estêvão. Ele não era um dos doze apóstolos originais, mas sim um dos sete homens escolhidos pela comunidade para administrar as necessidades diárias dos fiéis, em especial a distribuição de alimentos. Ocupando a posição de um dos primeiros diáconos, Estêvão era conhecido por sua “cheio de graça e de poder”, e por realizar “grandes prodígios e sinais” entre o povo.

No entanto, sua fama e sua pregação não passaram despercebidas. Sua coragem e sabedoria ao falar foram desafiadas por membros de sinagogas, que não conseguiam rebater seus argumentos. Frustrados, esses oponentes recorreram a uma tática perigosa: espalharam boatos e subornaram testemunhas para acusá-lo. As acusações eram graves e tinham um peso político e religioso imenso: ele estava supostamente blasfemando contra Moisés e a Lei, e contra o próprio Templo de Jerusalém. Ele era acusado de pregar que Jesus de Nazaré destruiria o Templo e mudaria as tradições que Moisés havia entregue.

Conduzido perante o Sinédrio, o mais alto tribunal judaico, Estêvão não se defendeu simplesmente refutando as acusações. Em vez disso, ele fez algo extraordinário: ele usou o púlpito do julgamento para recontar a história de Israel, mostrando que a própria trajetória de seu povo — de Abraão a Moisés — era uma história de rejeição e perseguição dos mensageiros de Deus. Sua defesa não era apenas sobre sua inocência, mas sobre a própria essência da fé que eles, o Sinédrio, afirmavam proteger. Ele estava prestes a mostrar que a história deles era uma preparação para o Messias, e que, ao rejeitar Jesus, eles estavam repetindo os erros de seus antepassados.

A jornada de Abrãao

Estêvão começa sua defesa com o Patriarca Abraão, o pai de toda a nação. Ele lembra ao Sinédrio que a história de Israel não começou em um templo construído por mãos humanas, mas com a manifestação da “Glória de Deus” a um homem solitário na Mesopotâmia, em Ur dos Caldeus.

A ênfase de Estêvão em Abraão é crucial. Ele está mostrando que a história da salvação de Deus é maior do que a instituição do Templo ou mesmo a Lei de Moisés. Começa com uma promessa divina feita a um indivíduo, que foi chamado a deixar tudo para trás e confiar em Deus. É uma fundação radical, baseada na fé e não em rituais.

A ordem de Deus a Abraão foi clara: “Sai da tua terra e da tua parentela, e vem para a terra que eu te mostrarei.” Abraão obedeceu, mudando-se para Harã e, depois da morte de seu pai, para a terra de Canaã. Ali, Deus não lhe deu nenhuma propriedade, nem mesmo o espaço de um pé, mas lhe prometeu que ele e sua descendência a possuiriam no futuro.


O Pacto e os Patriarcas

A promessa se consolidou através de uma aliança, o pacto da circuncisão. Essa marca física selou o destino de Abraão e sua posteridade. Estêvão prossegue, traçando a linhagem de fé: Abraão gerou Isaque, Isaque gerou Jacó, e Jacó gerou os doze patriarcas, os fundadores das doze tribos de Israel.

Estêvão está construindo um argumento teológico. Ele mostra que o plano de Deus é um fio contínuo. Ele não abandona Seu povo. Cada um desses patriarcas recebeu a mesma promessa. Ele usa a história que eles conhecem e respeitam para desafiar a rigidez deles. É como se ele estivesse dizendo: “Olhem para a sua própria história. Deus sempre trabalhou de formas inesperadas.”

Mas nem tudo era harmonia. A inveja dos irmãos contra José, o favorito, forjou um dos momentos mais dramáticos da narrativa de Estêvão.


A Traição e o Resgate de José

Os patriarcas, movidos pela inveja, venderam seu irmão José como escravo, que foi levado para o Egito. Um ato de traição, mas Estêvão revela a ironia divina: foi através desse ato que a providência de Deus se manifestou.

De um ponto de vista histórico, a história de José e a migração de Israel para o Egito ecoam a dinâmica de poder entre os reinos do Crescente Fértil. O relato de Estêvão, ao focar na traição, mostra que os desafios internos, e não apenas as ameaças externas, moldaram a história de Israel. A própria história de vocês, ele diz, está manchada pela rejeição.

Mesmo no cativeiro, Deus estava com José. Ele lhe deu sabedoria e graça diante do Faraó, o que o elevou a vice-rei do Egito. Quando a fome assolou a região, José salvou sua própria família, mostrando que a salvação viria através daquele que foi rejeitado.


A Vinda a Egito e o Surgimento de Moisés

A família de Jacó, setenta e cinco almas, se mudou para o Egito, conforme o plano de Deus. Eles prosperaram e se multiplicaram, até que um novo Faraó, que não conhecia José, se levantou para escravizá-los. Estêvão relata a opressão, a crueldade contra o povo de Deus, e a morte de incontáveis crianças. Mas foi nesse contexto de desespero que a esperança nasceu.

É nesse ponto que surge Moisés, o grande libertador. Ele nasceu “formoso à vista de Deus”, e foi resgatado das águas do Nilo, criado na casa do próprio Faraó. Ele se tornou instruído em toda a sabedoria dos egípcios, mas seu coração permanecia com seu povo. A história, como Estêvão a narra, é uma preparação para o ponto central de sua defesa. O libertador, rejeitado uma vez, voltaria.

Ao final, Estevão traçou um paralelo direto: assim como seus antepassados rejeitaram os mensageiros de Deus, os membros do Sinédrio também rejeitaram o Messias, o “Justo”, que eles assassinaram. A defesa de Estêvão não era apenas para provar sua inocência, mas para expor a hipocrisia e a cegueira espiritual de seus julgadores.


#AtosDosApóstolos #Estevão #IgrejaPrimitiva #Atos7

Dia 11